Ana Carolina Prates, Ragnar Chaves & Tamires Buchbinder | 03/04/2020
O novo Coronavírus, conhecido por (COVID-19), é apontado como uma variação da família Coronavírus (Cov) que carrega dois vírus conhecidos da OMS (Organização Mundial da Saúde), o MERS e o SARS. Ainda não se sabe qual foi o hospedeiro do COVID-19, mas alguns cientistas acreditam que este teve origem em um animal que, em seguida, transmitiu para os seres humanos.
No dia 11 de março de 2020, a OMS declarou o novo Coronavírus (COVID-19) como pandemia mundial, uma vez que o vírus já se encontrava espalhado em vários continentes com transmissão comunitária entre as pessoas, ou seja, um paciente foi infectado com a doença dentro do seu próprio país sem ter tido contato com pessoas que estiveram em países onde o vírus já havia sido identificado.
A transmissão do novo Coronavírus ocorre pelo contato com secreções de pessoas contaminadas, por superfícies contaminadas e pelo ar, uma vez que o vírus permanece no ambiente por até três horas. Portanto, não é aconselhável ficar próximo a pessoas que estão espirrando, tossindo e resfriadas.
Os sintomas apresentados são: febre, tosse, coriza, cansaço e falta de ar. O vírus pode desencadear uma doença respiratória leve ou grave, como pneumonia e bronquite, sendo estes últimos os responsáveis pelas mortes causadas pelo Coronavírus.
A taxa de mortalidade do COVID-19 é diferente para diversos grupos de pessoas, tendo a maior taxa observada em idosos com idades entre (60-79) e superior a 80 anos. Em crianças e adolescentes, a taxa de mortalidade é de 0,2%; em jovens e adultos é de 0,4 – 1,3%; em idosos com até 79 anos a taxa varia de 3,6% - 8% e em idosos acima de 80 anos a taxa é 14,8%.
Além disso, a taxa de mortalidade global do COVID- 19 varia de país para país devido a fatores como envelhecimento da população e das medidas de prevenção adotadas no início do surto da doença. Abaixo, segue um gráfico com a taxa global de mortalidade.
Propagação do Coronavírus
Cientistas chineses acreditam que o primeiro caso de Coronavírus tenha ocorrido em 17 de novembro de 2019, em um homem de 55 anos, na província de Hubei. No dia 31 de dezembro de 2019, a Organização Mundial da Saúde foi informada de pacientes com pneumonia de causa desconhecida, com 44 casos registrados entre o dia da notificação e 3 de janeiro.
No dia 20 de janeiro, já havia 278 casos confirmados na China e 4 fora dela, na Tailândia, Japão e Coréia do Sul. A primeira morte por Coronavírus ocorreu no dia 11 de janeiro e a primeira fora da China no dia 02 de fevereiro deste ano.
Fonte:worldometers.info
O que deve acontecer?
Um estudo do Imperial College, de Londres, que tem sido referência nos estudos sobre Covid-19, estima o impacto do vírus em termos de números de mortes no mundo em diferentes cenários: ignorar, mitigar e suprimir. No primeiro, haveria 7 bilhões de infectados (cerca de 90% da população) e 40,6 milhões de mortos, num cenário onde não se toma nenhuma atitude. No segundo caso, onde há uma tentativa de mitigação, as interações entre as pessoas reduzem a 42% do normal - isolando idosos ou igualmente toda a população -, haveria 20 milhões de óbitos, afetando, principalmente, os países mais pobres. Já no terceiro cenário, onde ocorre a supressão do vírus, com isolamento total da população e redução das interações interpessoais em 75%, teríamos 470 milhões de pessoas infectadas e 1,9 milhões de mortes. Nesse caso, quanto mais cedo as medidas são tomadas, maior a efetividade.
Medidas adotadas pela China e Itália
A China adotou a medida de supressão do vírus. Como resultado, após 2 meses o país viu o número de novos casos reduzir, registrando 45 casos no dia 28 de fevereiro, ante 54 no anterior. Desde o dia 23 de janeiro, a China mantém mais de 26 milhões de pessoas em quarentena e, no último sábado (28), algumas medidas foram tomadas para afrouxar a quarentena, como a abertura de parte das estradas para a entrada de pessoas na cidade. A saída só poderá acontecer a partir do dia 5 de abril.
Já a Itália, inicialmente, tentou implementar a estratégia de mitigação, buscando neutralizar os efeitos econômicos. O primeiro-ministro, Giuseppe Conte, se opôs, inclusive, a medidas como fechamentos de escolas e proibições de aglomerações em regiões que ainda não tinham sido afetadas. Naquele momento, a Itália registrava 650 contágios e 17 mortes. Atualmente (03/04), a Itália é o país com o maior número de mortes por Coronavírus, com 14.681 óbitos.
Medidas adotadas pelo Brasil
No Brasil, o primeiro caso do novo vírus foi confirmado no dia 26 de fevereiro de 2020, em São Paulo. Atualmente, já são mais de 4000 casos confirmados. De modo a evitar a propagação do vírus, no dia 13 de março, Witzel, governador do Rio de Janeiro, suspendeu as aulas em escolas públicas e privadas e, no dia 16 do mesmo mês, fechou os principais pontos turísticos da cidade. Os outros governadores tomaram medidas parecidas e quase o país inteiro está em isolamento social.
Entretanto, o Presidente da República, Jair Bolsonaro, afirma que esse isolamento não é benéfico para a economia e que o vírus não é tão letal a ponto de deixar toda a população em casa. Ele acredita que deve ser feito um lockdown vertical, no qual apenas os grupos de risco deveriam se manter em isolamento, em prol da economia. Bolsonaro lançou a campanha “O Brasil Não Pode Parar” em suas redes sociais, alegando que trabalhadores autônomos já sentem as consequências de uma economia mais desacelerada.
Sua equipe não parece o seguir nessa ideia. O Ministro da Saúde, Luiz Mandetta, é a favor de um lockdown horizontal, no qual todos devem se manter em casa, se possível, a fim de evitar que o sistema de saúde seja sobrecarregado com a explosão do número de casos.
De acordo com as projeções para o Brasil do Imperial College, entre o pior e melhor caso, a diferença de número de mortes é de 1,05 milhões de pessoas. No melhor cenário, com medidas adotadas de forma precoce, em um isolamento social intensivo (75% de isolamento de toda a população) o número de mortes seria de 44 mil. No gráfico a seguir, podemos ver a situação do número de mortes em cada caso.
Um isolamento parcial seria evitando apenas aglomerações e eventos
Os dados sobre o sistema de saúde do Brasil preocupam: dos 16 mil leitos existentes nas UTIs do SUS (Sistema Único de Saúde), 15.200 estão ocupados, ou seja, 95% dos leitos. No SUS, a média de leitos de UTI para 100 mil habitantes é de 10 leitos e, no sistema privado, a média é de 40 leitos. Para os casos em que o COVID-19 se agrava, ocasionando problemas respiratórios graves, necessita-se de um ventilador mecânico: 50% dos ventiladores do SUS estão ocupados e, da rede privada, 20%, o que aparenta ser um dado positivo. No gráfico a seguir, vemos como seria a demanda pelo sistema de saúde no Brasil, de acordo com o Imperial College, dependendo da política de mitigação.
O Ministro da Economia, Paulo Guedes, também é a favor do distanciamento social como forma de combater o avanço da pandemia. Porém, Guedes também está atento à crise econômica que pode vir seguida do vírus. Por isso, ele lançará um pacote de aproximadamente R$700 bilhões, aliado ao Banco Central e aos bancos públicos, para garantir que a economia gire. O foco desta injeção de dinheiro na economia seria para garantir proteção aos idosos, trabalhadores informais e autônomos e beneficiários do Bolsa Família, população que está na faixa pobre do país.
No próximo artigo da Liga de Mercado Financeiro da PUC-Rio será abordado detalhadamente as medidas oficiais tomadas pelo Ministério da Economia, os impactos econômicos do COVID-19 no Brasil e as ações tomadas para suavizar esses efeitos.
Bibliografia:
[1] The global coronavirus fatality rate has doubled in just 2 months, according to WHO data, Business Insider, 2020. Disponível em:
[2] Coronavirus disease 2019 (COVID-19) Situation Report – 69, WHO, 2020. Disponível em:
[3] A Timeline of the Coronavirus Pandemic, New York Times, 2020. Disponível em:
[4] Timeline: How the new coronavirus spread, Al Jazeera, 2020. Disponível em:
[5] Itália muda estratégia contra o coronavírus para combater o alarmismo e proteger a economia, El País, 2020. Disponível em:
[6] Imperial College: COVID19 Global Impact, Imperial College, 2020. Disponível em:
[7] Berço da Covid-19, Wuhan começa a sair da quarentena e reabre ferrovias, O Globo, 2020. Disponível em:
Comentários