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Rússia x Ucrânia: raízes e consequências do conflito

Atualizado: 8 de abr. de 2022

Eduardo Berardo e Pedro Rocha


Por ar, terra e mar – foi assim que a Rússia lançou um ataque à Ucrânia, uma democracia europeia de 44 milhões de pessoas e segundo maior país da Europa. A invasão configura um marco de guerra para o século 21 – é a primeira vez que um país europeu é atacado desde a Segunda Guerra Mundial. Neste artigo, procuramos ilustrar as principais razões para o ataque russo, assim como o atual momento do conflito e, por fim, suas consequências.

O QUE ESTÁ POR TRÁS DA INVASÃO?

Após o colapso da União Soviética, a Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN) expandiu-se para o leste. Diante disso, a organização acabou abrangendo a maioria das nações europeias que possuíam influência comunista, como Lituânia e Polônia. Consequentemente, conseguiu aproximar-se de Moscou, fazendo fronteira direta com a Rússia e, em 2008, afirmou que planejava inserir a Ucrânia como sua parceira.

No entanto, Vladimir Putin discorda veementemente de tal atitude, ele enxerga a possibilidade da Ucrânia juntar-se à organização como uma grande ameaça ao seu país. De acordo com o presidente russo, a expansão da OTAN para o leste deixaria a Rússia "sem lugar para onde recuar". Além disso, o presidente relatou repetidamente a presença de mísseis e forças de combate norte-americanas na Ucrânia. Os Estados Unidos, os ucranianos e as autoridades da OTAN negaram.


Ademais, há fortes razões culturais envolvidas no conflito. Primeiramente, ambos os países compartilham raízes que remontam ao primeiro estado eslavo fundado no século IX. Em segundo plano, eles reivindicam Kiev, a capital da Ucrânia, como berço de suas culturas, religiões e línguas contemporâneas. Ainda no meio dessa entrelaçada história, Putin declarou que “a Ucrânia moderna foi totalmente criada pela Rússia, mais especificamente pela Rússia bolchevique, comunista”.

Por fim, o chefe de estado russo afirmou que seu objetivo baseia-se na proteção das pessoas submetidas à intolerância e ao genocídio. Segundo Putin, a Ucrânia foi tomada por extremistas nazistas. Portanto, ele supostamente estaria buscando a promoção da "desmilitarização e desnazificação” da região. Porém, o presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, que é judeu, discorda dos fundamentos soviéticos. Abaixo, através de um mapa criado pela BBC, podemos ver os movimentos de tropas russas que foram relatados na Ucrânia.




O QUE OCORREU ATÉ AGORA?


Do dia 24 de fevereiro ao dia em que esse artigo foi escrito, a Rússia já avançou por parcelas significativas do território ucraniano próximos à fronteira dos dois países. No entanto, a maior parte da área do país continua sob posse da Ucrânia, incluindo a capital Kiev, a qual segue resistindo contra o exército inimigo. Na imagem abaixo, é possível observar a evolução das tropas russas no território ucraniano.



O exército russo encontra-se “estagnado”, enfrentando muita resistência na capital ucraniana. Apesar de ser difícil a obtenção do número de causalidades no conflito, cujas informações são escassas, os Estados Unidos estimam que as baixas russas variam entre 3 mil e 10 mil. Somado a essa conjuntura, acredita-se que milhares de soldados e civis ucranianos tenham sido mortos ou feridos


Em um território de guerra e conflitos armados, muitos ucranianos buscam escapar desse conflito para outras localidades. Diante desse cenário, o número de indivíduos refugiando-se da Ucrânia superou três milhões, tornando esse movimento a crise de refugiados que mais cresce na Europa desde a Segunda Guerra Mundial.


Além disso, a maioria dos países democratizados pronunciaram-se a favor da Ucrânia após a invasão. Os Estados Unidos e grande parcela da Europa manifestaram-se contra as ações de Putin no Leste Europeu. O auxílio à região tem sido feito por três frentes: por meio de ajuda armamentista e econômica, pelo acolhimento aos refugiados e por intermédio de apoio diplomático. Os principais países envolvidos nos esforços são os aliados da OTAN e da União Europeia, e as nações vizinhas.


Dadas as atuais perspectivas, a Rússia encontra-se em uma melhor posição para pressionar os Estados Unidos e a OTAN. Mesmo antes do ataque, o país soviético já havia exigido grandes demandas – como, por exemplo, a garantia de que a Ucrânia nunca ingressaria na OTAN; e de que a Organização retiraria suas forças da Europa Oriental. Por enquanto, devemos aguardar o desenvolvimento do conflito e as respostas do Ocidente.



CONSEQUÊNCIAS MAIORES DO QUE SE IMAGINA

Desde 1945, não há relatos de um país reconhecido internacionalmente que fora “apagado do mapa” por uma invasão externa, algo que era extremamente comum até aquele ponto da história. No entanto, a Rússia ameaça colocar em risco o grande avanço humano conquistado nos últimos anos - o repúdio aos tempos de guerra. Nesse cenário, configura-se um clássico viés imperialista, no qual Putin busca expandir sua influência geopolítica por uma via bélica, incitando o medo ao redor do mundo de uma Terceira Guerra Mundial entre potências nucleares.


Em uma reunião do Conselho de Segurança Nacional da ONU, o representante do Quênia, Martin Kimani, destacou como a obsessão incessante por territórios e fronteiras continua gerando cenários de violência pelo mundo. No evento, ele afirmou que, em vez de guerras sangrentas, os países africanos concordam em contentar-se com as fronteiras que herdaram. Desse modo, é visível o perigo do pretexto para o mundo caso a Rússia atinja seu objetivo, que é anexar a Ucrânia em seu território. Caso isso ocorra, o acontecimento servirá como um exemplo para futuros imitadores, incitando o risco de voltarmos para uma época de guerra.


Recentemente, estivemos vivendo um longo momento de paz. Nessa perspectiva, somente uma pequena porcentagem da verba da maior parte dos países do mundo era direcionada ao Exército - a média da Europa, por exemplo, é de aproximadamente 6%. No entanto, a partir dessa guerra, com o crescente aumento do medo da população mundial com invasões e ameaças nucleares, já é possível observar países aumentando em larga escala seu orçamento militar em um curto período de tempo, como é o exemplo da Alemanha. Diante desse cenário, há o início de um efeito cascata, no qual, à medida que um maior número de países investe em Defesa Nacional, mais são motivados a fazer o mesmo. Assim, verbas para outras áreas, igualmente ou mais importantes para o desenvolvimento de uma nação, como Saúde, Educação e Mobilidade, são preteridas em prol de gastos armamentistas.


Além disso, a guerra também está a caminho de causar um surto de desnutrição grave, e até fome, em várias regiões do globo. Em primeira instância, é importante destacar que o fornecimento de alimentos já era considerado desafiador ao final de 2021, principalmente devido à pandemia. Atualmente, esse cenário preocupa ainda mais, visto que ambas as nações envolvidas na guerra, juntas, representam um terço do comércio mundial de trigo e 12% de todas as calorias comercializadas. Com sanções financeiras e comerciais à Rússia e o conflito em andamento no território ucraniano, a oferta é cortada, aumentando os preços dos alimentos, que já estão em níveis recordes – e em um momento em que as consequências econômicas do COVID-19 já prejudicou os orçamentos das famílias, principalmente em países de baixa renda.


Entretanto, em meio a tantas problemáticas, há possibilidade para aprendizados e avanços globais. Primeiramente, com toda a ajuda que vimos a Ucrânia receber de outros países, é de se esperar que a Europa saia dessa guerra mais unida. Ademais, o conflito pode paradoxalmente fazer com que o continente europeu perceba o perigo da atual dependência de gás e petróleo da Rússia e acelere o desenvolvimento de melhores fontes de energia e infraestrutura energética, minando o poderio político de Putin.


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