Pedro Arthur Leite | 28/03/2018
Ou melhor, você conhece alguma empresa de celulose ou de papel? Pois bem, então saiba que existe uma nova empresa brasileira que domina impressionantes 40% do mercado mundial de celulose de eucalipto. A nova “campeã nacional” será a maior responsável do planeta por fornecer a matéria-prima para produzir desde cadernos até papel higiênico, e outros vários produtos de educação, saúde, higiene e limpeza. Mas quem é essa gigante? Ainda sem nome, é o resultado da fusão entre Fibria e Suzano, as duas maiores empresas brasileiras do setor, que deixam de ser concorrentes para aproveitar todos os benefícios que a união pode trazer. E o que exatamente elas fazem? De forma bem simplificada, o plantio de florestas de eucalipto e o seu processamento industrial através de uma série de reações químicas para produzir a celulose.
Não é nem necessário comentar que o mercado de ações foi fortemente agitado com uma notícia desse peso. Enquanto os investidores da Suzano comemoraram, aqueles que possuíam ações da Fibria têm sérios motivos para se arrependerem. De certa forma, é um pouco estranho ver uma empresa subindo e a outra caindo, visto que agora elas são basicamente a mesma. Mas há uma explicação racional por trás da reação do mercado. Para entender melhor, vamos analisar alguns pontos relevantes.
Disputa pela Fibria:
A situação era um tanto quanto incerta até a notícia oficial da fusão com a Suzano. Esta disputava bravamente o controle da Fibria com uma empresa estrangeira chamada Paper Excellence. Vencer essa batalha significava se tornar a maior do mundo no setor, o que possibilita um controle muito grande sobre o preço da commoditie celulose, dado que aumentar ou diminuir a oferta afetaria diretamente o preço, seguindo a Lei de Oferta e Demanda. Entretanto, a proposta feita pela Paper Excellence era de R$71,50 por ação, bem mais vantajosa do que a da Suzano, de R$63,29 por ação. O que fez então a Fibria fechar o “pior negócio”? Primeiro, há restrições de compra das terras brasileiras por empresas de fora do país, o que prejudica diretamente a operação da companhia. Além disso, o BNDESPar, um braço de investimentos do BNDES, detinha cerca de 30% das ações da Fibria e, por ser um banco estatal, parece ter optado por criar uma “campeã nacional”.
Preço Baixo:
A surpresa está exatamente nos valores do negócio. O preço da ação da Fibria no dia da fusão era de R$71,56, o que significa que a Suzano pagou muito, mas muito barato mesmo pela aquisição, um desconto de 11%. Analistas do banco de investimentos BTG Pactual divulgaram um relatório onde defendiam que o preço justo do negócio era algo em torno de R$71,00, segundo o valuation feito para a Fibria. Na realidade, a Fibria vinha numa alta muito satisftória, principalmente por ter expandido suas operações nos últimos meses com a conclusão do megaprojeto Horizonte 2, que aumentou em muito o volume de celulose produzido pela companhia. Além disso, há uma expectativa por grande sinergia entre as duas empresas, o que deve gerar um aumento nas margens de lucro. Por fim, ter uma proposta na mesa, da Paper Excellence pelo valor considerado justo mostra claramente o porquê do desespero dos investidores da Fibria com a notícia.
Forma de Pagamento:
A Suzano obteve ainda mais vantagens ao acordar o pagamento em ações. Na verdade, foi uma estratégia tão inteligente que agências de classificação de risco aumentaram o rating da empresa, por mostrar uma preocupação em não se alavancar demais, ou seja, não ter que se comprometer com muitos empréstimos. A fusão ainda depende da aprovação por órgãos de fiscalização como o CADE e da aprovação em conselho na Fibria, mas já é dada como certa. Entretanto, por questões burocráticas, estima-se que só acontecerá a concretização no fim de 2018 ou até mesmo no início de 2019. Nesse momento, os investidores da Fibria receberão R$52,50 corrigidos pelo CDI[1] e mais 0,46 ações da Suzano por cada ação da Fibria que possuírem.
Expectativas:
Investir hoje em Fibria é praticamente o mesmo que investir em renda fixa, pois a maior parte do capital estará sujeito apenas à taxa do CDI. Entretanto, seria um investimento com rentabilidade baixa, pois é possível conseguir taxas melhores no mercado, sem a necessidade de aumentar muito o risco. Por outro lado, comprar ações da Suzano significa acreditar no potencial de crescimento da empresa que está se formando. As condições do acordo, hoje, já não são mais tão relevantes para o futuro, pois o mercado já precificou o trato, ou seja, a reação à notícia já está sendo computada no valor da ação. Contudo, existe a possibilidade da “campeã nacional” superar as expectativas, e aqui vale citar novamente o relatório divulgado pelo BTG Pactual, onde analistas do banco defendem que as sinergias criadas pela fusão vão ser maiores do que o que o mercado espera.
Independente do preço, a empresa brasileira promete ser um dos nomes fortes no cenário global. Com um mercado de celulose bem aquecido, a companhia terá mais facilidade em suas negociações após a fusão, e deve manter a boa gestão que ambas já apresentavam anteriormente. Vale a pena ficar ligado nos próximos capítulos dessa novela, pois nasce aqui uma nova gigante brasileira.
[1] O Certificado de Depósito Interbancário (CDI) é precificado via taxa CDI, que é a taxa de juros entre bancos. Por estar diretamente relacionada às políticas monetárias do Banco Central, a taxa CDI é uma aproximação muito boa para a taxa de juros básica (SELIC), sendo muitas vezes desconsiderada a diferença.
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