Por Julia Abreu e Rafael Queiroz
Notícias de subidas abrutas, assim como promessas de que esses ativos irão revolucionar o modelo econômico vigente, tornaram-se cada vez mais comuns. Mas, afinal, o que é uma criptomoeda?
De forma bastante simples, podemos defini-la como uma moeda inteiramente digital. Surgiu no final do século XX como forma de tirar o agente intermediário das transações, mas somente alcançou grande popularidade ao longo da última década. Em meio ao mundo cada vez mais globalizado, com a desterritorialização da produção industrial, tornou-se necessária a busca por formas de facilitar a ocorrência de transações. As criptomoedas são somente um dos elementos que trabalham para isso, e são elas que irão receber o destaque nesse artigo.
Como qualquer outro tipo de moeda, as criptomoedas surgiram com três funções principais: meio de troca, reserva de valor e unidade de conta. O grande fator que as diferencia das demais é o modelo descentralizado, muito frequentemente adotado nesses casos. Diferentemente do real e do dólar, por exemplo, que são emitidos pelos bancos centrais dos seus respectivos países, as criptomoedas são obtidas pela mineração e, geralmente, não são reguladas por nenhum tipo de organização.
O processo de mineração está ligado à tecnologia disruptiva por trás das criptomoedas, o blockchain. Esse pode ser definido de forma simples como uma rede de blocos encadeados extremamente seguros que têm como objetivo se assemelhar a um livro-razão, porém pública e com o intuito de criar consenso e confiança na comunicação entre as duas partes envolvidas, sem a necessidade de um intermediário.
No caso do bitcoin, por exemplo, para que cada transação seja efetivada, é preciso que o processo de mineração ocorra. Nessa etapa, diversos mineradores competem uns com os outros para encontrar a resposta para uma solução complexa matemática que irá validar as transações de Bitcoins e recompensará os mineradores com uma determinada quantia de Bitcoins por cada bloco minerado.
Periodicamente, a quantia de Bitcoins remunerada aos mineradores sofre uma redução, a fim de promover um choque de oferta e, em decorrência disso, uma alta nesse ativo. Esse processo é conhecido como "Halving" de Bitcoins.
“Halving” pode ser definido como “cortar pela metade”. A cada 210 mil blocos minerados, o que ocorre de 4 em 4 anos, a quantidade de Bitcoins por bloco cai pela metade, ou seja, o que começou com 50 BTC por bloco, agora são apenas 6,25. O que isso quer dizer? A recompensa do minerador caiu pela metade, a oferta do BTC caiu. Eventualmente, não restará mais nenhum Bitcoin para ser minerado e, quando isso acontecer, o blockchain se manterá, mas o minerador deixará de receber a recompensa. No entanto, isso não é exatamente uma preocupação para agora, a expectativa é que isso ocorra somente em 2140 e, ainda assim, os mineradores conseguirão ter como fonte primária de renda as taxas das transações.
Esses são alguns dos pontos básicos que precisam ser entendidos quando o assunto é criptomoedas. Mas ainda assim fica toda a dúvida da sua aplicação prática: para que servem? Como analisar? Qual a sua importância no portfólio? Por que tão voláteis? São esses os pontos que serão analisados a seguir.
A primeira pergunta pode parecer bem lógica para qualquer um ao pensar nas atividades comuns do dia a dia: não se vê com frequência uma padaria ou lojas que aceitam criptomoedas como o Bitcoin, por exemplo. Além disso, para o caso dessa moeda específica há uma limitação prática bem gritante - o limite de 7 transações por segundo. Quando se aumenta a escala de usuários, fica bastante fácil entender que não é uma alternativa a ser adotada no dia a dia, então, para o que ela serve? Bom, ela é uma ótima opção a ser usada em compras maiores, e o Bitcoin especificamente serve como uma base para todo o mercado de criptomoedas, sendo uma unidade de referência para a valorização ou desvalorização desses ativos..
Outra questão relevante é a de como é feita a sua análise. Diferentemente da análise fundamentalista utilizada para estudar o investimento em empresas, por exemplo, não é possível realizar o fluxo de caixa descontado para analisar uma criptomoeda, uma vez que esses não são ativos geradores de caixa, o que torna o processo mais difícil e inacessível para o investidor sem experiência no assunto. Um instrumento útil para auxiliar a análise pode ser a partir dos White Papers dos criptoativos. Nesses formulários estão contidas informações imprescindíveis acerca das principais características e objetivos do criptoativo desejado.
O ano de 2020 foi péssimo para os mercados. O BOVA11 teve crescimento real negativo de cerca de 1,4%. Em compensação, nesse mesmo período, o Bitcoin cresceu mais do que 300%. No ano de 2021, teve-se uma alta estratosférica no preço desse ativo. Ele chegou a alcançar alta de 70% em 2021, batendo o novo recorde histórico de US $58.354,14 no final de fevereiro.
Fonte: TradingView
Fica bastante claro que ele é um ativo bastante descorrelacionado dos demais. O gráfico acima ilustra uma comparação do crescimento percentual do BOVA11 em relação ao Bitcoin no ano de 2020, que é uma ilustração perfeita de como a exposição a esse tipo de ativo é importante, principalmente em momentos de instabilidade do mercado em geral. No entanto, é importante ressaltar novamente que esse ativo é extremamente volátil, ponto que será melhor explicado mais à frente nesse texto. Por ora, vamos abordar alguns motivos para explicar esse aumento significativo no valor da moeda.
Uma das principais razões pode ser encontrada na entrada gradativa de grandes instituições financeiras, que estão começando a enxergar valor no novo mercado disruptivo dos criptoativos. Essa entrada, além de dar credibilidade a essa classe de ativos, também representa uma movimentação significativa de capital para o criptomercado.
Mas afinal, o que os investidores institucionais estão enxergando nessa nova classe de ativos?
De acordo com grandes nomes do mercado financeiro, como o investidor consagrado Ray Dalio, uma boa alternativa para garantir que seu portfólio aumente sua rentabilidade e reduza o seu risco é a partir da alocação de ativos descorrelacionados.
Ativos ditos correlacionados entre si acabam por ter uma relação e até mesmo um movimento análogo (ou contrário) em relação à flutuação de suas cotações. A correlação entre ativos pode variar de -1 a 1. Para exemplificar podemos olhar para as ações da Petrobras. Os tickers Petr4 e Petr3 possuem uma correlação de 0,99, o que é bem compreensível, já que ambos são referentes a mesma empresa.
Existe uma rara situação, extremamente difícil de se achar, em que dois ativos são descorrelacionados, ou seja, suas movimentações não seguem nenhuma lógica matemática. Esses ativos, no entanto, acabam por potencializar os ganhos e reduzir os riscos de uma carteira.
No gráfico abaixo podemos observar o impacto positivo da descorrelação no portfólio:
Fonte: Principles (Ray Dalio)
Os criptoativos, incrivelmente, são quase descorrelacionados (correlação próxima de zero) com todas as demais classes de ativos, fazendo com que até mesmo uma pequena exposição a essa classe possa garantir um desempenho melhor em sua carteira.
Por fim, é importante destrinchar um dos aspectos mais marcantes dos criptoativos: a sua volatilidade. Óbvio que sua valorização extraordinária dos últimos anos trazem base para um excelente argumento a seu favor, no entanto, não é possível esquecer também todos os riscos envolvidos nesse investimento.
Um dos principais motivos para isso é a alta quantidade de investidores “baleia”, ou seja, que possuem uma enorme quantidade de ativos e, com isso, detêm grande influência sobre o mercado. Um exemplo disso está na figura de Elon Musk, CEO da Tesla, que por um único tweet é capaz de gerar grandes movimentações no mercado. Ao indicar seu apoio ao Bitcoin em sua biografia na rede social, no dia 29 de janeiro de 2021, o preço do ativo subiu 13%, como pode ser visto no gráfico e na imagem abaixo.
Fonte: TradingView
Fonte: Twitter
Criptoativos definitivamente vêm conquistando espaço, consolidando-se cada vez mais no panorama econômico vigente. Até mesmo os grandes investidores começam a prestar atenção para essa nova classe de ativos. No entanto, as suas características, como a dificuldade de se analisar e sua grande volatilidade, acabam por fomentar um questionamento: será que viveremos em um mundo em que as criptomoedas prevalecerão, podendo vir a tornar grandes órgãos como os Bancos e até mesmo Bancos Centrais obsoletos? Teremos uma economia completamente reformulada por conta desses ativos?
Bibliografia:
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NASCIMENTO, Daniela. Bê-a-bá Cripto: por que o preço do Bitcoin é tão volátil?. Disponível em: <https://www.moneytimes.com.br/be-a-ba-cripto-por-que-o-preco-do-bitcoin-e-tao-volatil/>. Acesso em: 08/03/2021
CUNHA, João Marco. Por que todo investidor deveria ter exposição a criptoativos?. Disponível em: <https://www.hashdex.com.br/conteudo/artigos-e-opinioes/por-que-todo-investidor-deveria-ter-exposicao-a-criptoativos>. Acesso em: 27/02/2021
BASSOTO, Lucas. Os ciclos do mercado de Bitcoin. Disponível em: <https://www.investificar.com.br/os-ciclos-do-mercado-de-bitcoin/>. Acesso em: 27/02/2021
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DECRYPT. O que vai acontecer quando todos os Bitcoins forem minerados. Disponível em: <https://portaldobitcoin.uol.com.br/o-que-vai-acontecer-quando-todos-os-bitcoins-forem-minerados/#:~:text=O%20n%C3%BAmero%20m%C3%A1ximo%20de%20bitcoins,novo%20Bitcoin%20entrar%C3%A1%20em%20circula%C3%A7%C3%A3o.>. Acesso em: 28/02/2021
Criptomoedas: um guia para dar os primeiros passos com as moedas digitais. Disponível em: <https://www.infomoney.com.br/guias/criptomoedas/>. Acesso em: 25/02/2021
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