Quando se pensa em bancos, logo nomes como Santander, Itaú e Caixa são imediatamente associados, entretanto, nos últimos anos, essa ideia vem mudando de forma gradual, mas cada vez com mais força. Encontramos no Brasil de hoje, clientes que estão interagindo cada vez mais com a tecnologia, e criando aptidão por ela, logo, estão implementando-a em seu dia-a-dia. Com isso, a necessidade de mecanismos mais dinâmicos é cada vez maior, tornando os Bancos tradicionais, em alguns casos, “obsoletos”.
Com essa nova exigência do mercado, as fintechs, que vêm surgindo no cenário brasileiro há alguns anos, viram uma boa oportunidade para ganhar market share, em um nicho extremamente tradicional e com poucos players. Com um aporte de capital significativo, elas conseguiram seu devido espaço no mercado e, o que parecia um movimento tímido no setor, acabou virando uma dor de cabeça para os bancos tradicionais. A pergunta que muitos se fazem é: como os bancos digitais conseguiram tanto espaço de forma tão acelerada em um mercado como o do Brasil?
Atualmente, vivemos em um mundo VUCA, sigla derivada das palavras em inglês volatile, uncertain, complex e ambiguous, o que significa que o mundo está em constante mudança, e com isso, as organizações precisam se adaptar às necessidades de seus clientes, que mudam em um piscar de olhos. Em um cenário pouco pulverizado, os grandes bancos possuíam incentivo menor a implementar algumas transformações, o que abriu margem para novos entrantes que atendessem as novas necessidades dos consumidores, como a digitalização de todas as funções bancárias, para que não houvesse a necessidade, por exemplo, de ir até uma agência física e enfrentar filas.
Além da conveniência e comodidade nas operações bancárias, outro fator chave para a ascensão dos bancos digitais foi que o cliente acaba arcando com menos despesas, devido a inferioridade no valor das taxas.
Visto a inesperada e agressiva expansão do mercado digital no Brasil, os bancos, preocupados com o número de clientes dispostos a migrarem seu dinheiro para empresas mais modernas e recentes, tomaram as devidas providências e iniciaram uma modernização de seus serviços, ou até mesmo mais do que isso, criaram novos serviços, os quais são fortemente inspirados em fintechs. Vejamos o digio, cartão do Banco do Brasil e Bradesco, que chegou ao mercado justamente para concorrer diretamente com o Nubank, a startup pioneira em bancos digitais no Brasil. O serviço possui as tradicionais características “revolucionárias”: isenção de taxa de anuidade, juros menores, 100% digital e com controle de gastos diretamente do app do smartphone. O serviço, assim como diversos outros, vem sido adotado, especialmente, pelo consumidor jovem, os chamados millenials, que buscam cada vez mais uma maior simplicidade e redução de gastos.
Em um país como o Brasil, onde mais da metade da população não possui acesso bancário, é difícil imaginar novos entrantes do mercado prosperando em um ambiente já fechado, entretanto, é nesse ponto em que as principais fintechs querem chegar: captar a parte da população que não possui conta bancária e, através de um cadastro extremamente simples e livre de qualquer impasse, fidelizar os potenciais clientes. Essa tendência, contudo, não existe apenas no Brasil, que, se comparado a outros países latino americanos, fica para trás quando o assunto é mirar naqueles que não possuem bancos: 35% das fintechs brasileiras visam tal objetivo, enquanto no México 46% buscam esse tipo de consumidor, seguido pela Colômbia, com 45%, e Argentina, com 41%.
Para a surpresa de muitos, quem adentrou tal terreno foi o Banco Central, que sob a nova gestão de Roberto Campos Neto, visa combater o oligopólio dos 5 maiores bancos, que detém 85% do total de depósitos, introduzindo o sistema open banking, que permitirá a integração das informações de clientes e dos bancos em uma única plataforma, assim viabilizando, com o consenso do cliente, que suas informações sejam compartilhadas entre inúmeras instituições financeiras. As fintechs então terão acesso à esse tipo de informação, ganhando, consequentemente, mais força para concorrer com os grandes bancos, já que o acesso a informação é algo extremamente valioso quando o assunto é mercado financeiro. Campos Neto, que chegou à presidência do BC após 18 anos no Banco Santander, percebeu que o Brasil pode se beneficiar com tal mudança no mercado, que está estagnado há anos. O modelo de open banking que será utilizado ainda não foi definido, visto que existe um processo de regulamentação. Quando em prática, o cliente que autorizar o compartilhamento de seus dados, poderá acompanhar em um único aplicativo, as todas as informações financeiras que a ele pertencem, mesmo se seu dinheiro estiver em diferentes instituições.
Os bancos digitais não mostram nenhum sinal de desaceleração, e com o consumidor brasileiro cada vez mais mostrando aptidão pelo novo e moderno, resta saber se os bancos tradicionais conseguirão conter essa nova onda ou se terão que reinventar para conseguirem se manter relevantes no mercado, pois as fintechs continuam mostrando que vieram para ficar, e as inovações não irão parar, como mostram os planos de expansão delas, especialmente com ajuda de meios como o Banco Central e injeção de capital estrangeiro, como foi o caso da Nubank, que recebeu US$ 180 de fundos de investimentos offshore.
“In the new world, it is not the big fish which eats the small fish, it’s the fast fish which eats the slow fish.” Klaus Schwab – fundador e diretor executivo do World Economic Forum.
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