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Educação financeira e a democratização do mercado financeiro brasileiro

Por Camila Kneitz e Patrícia Ferreira


“Financial deepening”1 é um termo utilizado para descrever o aumento na oferta de serviços financeiros, havendo um aumento significativo no número de investidores. Esse fenômeno ocorre, principalmente, devido à incidência de juros mais baixos, inovações tecnológicas e mudanças na regulamentação. Como consequência, ocorre uma sofisticação dos mercados de capitais com novos estilos de gestão e novas classes de ativos. Um exemplo que está se tornando cada vez mais comum são as Fintechs.

Mas, levando em consideração o sistema cada vez mais complexo por meio do qual funciona o mercado, como se pode esperar que trabalhadores individuais, ao se aventurarem em novos tipos de investimentos, avaliem os riscos e façam escolhas de maneira mais consciente? Nesse contexto, a educação financeira torna-se cada vez mais relevante, não apenas para os investidores profissionais, mas para o público investidor em geral.


A Standard & Poor’s GLOBAL FINLIT SURVEY2 define a educação financeira como a capacidade de entender conceitos essenciais à tomada de decisões sobre poupança, investimentos e empréstimos. Para investidores não profissionais, boas decisões financeiras são essenciais para que se garanta o equilíbrio do orçamento familiar, o financiamento de imóveis e a aposentadoria.

No ranking de taxa de alfabetização financeira mundial feito pela Global Financial Literacy (imagem 1), o nível de educação financeira parece ser mais forte em países com economias desenvolvidas e avançadas, enquanto os países emergentes, como no caso do Brasil, possuem índices mais baixos. Em grande parte dos casos, essa falta de conhecimento sobre finanças básicas pode impactar diretamente a qualidade de vida dos cidadãos.




Imagem 1 - Fonte: Global Financial Literacy Excellence Center



Em relação ao mercado de investimentos, é possível perceber a existência de uma barreira, muitas vezes formada por falta de acesso à informação, que acaba por afastar potenciais investidores. Esse afastamento faz com que grande parte da população deixe de, através da realização de diversos tipos de investimentos, melhorar sua situação financeira e, consequentemente, a economia do país. Um mercado de capitais mais líquido e forte contribui para a criação de novos negócios, para a geração de empregos e de riqueza. No entanto, isso de fato só ocorrerá se a população possuir o conhecimento técnico e o engajamento necessários à adequada utilização desses meios.


De forma lenta e gradual, o cenário no país vem se modificando nesse sentido. Uma pesquisa publicada pela B3 no final de 2020 revelou que o perfil do investidor brasileiro vem se transformando, de modo que mais de 2 milhões de pessoas iniciaram sua jornada de investimentos na bolsa de valores entre abril de 2019 e abril de 20203. Em outubro de 2020, o número de contas na B3 ultrapassou a marca de 3,2 milhões, atingindo uma alta expressiva de 87,5% quando comparado com o mesmo período de 2019.


De acordo com os dados da B3, o perfil médio da nova safra de investidores é jovem (média de 32 anos), sem filhos (60%), com renda mensal de até R$5 mil (56%) e com trabalho em tempo integral (62%). Ademais, o valor do primeiro aporte entre os investidores pessoa física caiu nos últimos dois anos, de 58%, saindo de R$1.916, em outubro de 2018, para R$660, em outubro de 2020.


Embora o crescimento da participação de mulheres em investimentos na bolsa tenha sido significativo nos últimos anos, aumentado de 179.392 mulheres investidoras em 2018 para 809.533 em 2020, ao fazer a comparação por gênero é possível perceber que as mulheres ainda são minoria, representando apenas 26% dos investidores, mesmo que 45% dos lares brasileiros sejam chefiados pelo gênero feminino.


O aumento no nível de educação financeira em relação ao público investidor deve-se, em parte, à democratização do acesso à informação, impulsionado principalmente pelos meios digitais. A pesquisa ainda revelou que 73% dos entrevistados obtêm informações sobre investimentos na internet, e 60% o fazem por meio de influenciadores digitais.


Dessa forma, para aqueles que buscam ingressar no mercado de investimentos é necessário estudar e buscar orientação para conseguir aproveitar as oportunidades, seja em ações, em fundos imobiliários, ou em diversas classes de ativos que ainda não costumam integrar as carteiras dos investidores individuais. No mundo amplamente digital e globalizado, não são poucas as formas através das quais se pode buscar esse conhecimento, que se encontra disponível em sites de instituições confiáveis (Exemplo: B3, CVM), podcasts (Exemplo: Stock Pickers, No Bolso e Na Bolsa, TerraçoCast), livros, corretoras (Exemplo: Xp investimentos, BTG Pactual) e até mesmo influenciadores digitais (Exemplo: Explicaana, NathFinanças).





Bibliografia


  1. INDIA, Reserve Bank Of. Economic Growth, Financial Deepening and Financial Inclusion. Disponível em: https://web.archive.org/web/20171106120816/https://www.rbi.org.in/scripts/BS_SpeechesView.aspx?Id=310. Acesso em: 02 fev. 2021.

  2. SURVEY, S&P’s Global Financial Literacy. What is the Financial Literacy Rates Around the World? Disponível em: https://howmuch.net/articles/financial-literacy-around-the-world. Acesso em: 30 jan. 2021.

  3. Investidores. Disponível em: http://www.b3.com.br/pt_br/noticias/investidores.htm. Acesso em: 30 jan. 2021.



Referência da foto de capa:

https://freerangestock.com/photos/122510/photo-details.html




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