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A Crise e o Futuro do Varejo

Atualizado: 15 de jan.

Gabriel Marques da Silva


A atual crise varejista no Brasil se deve pela grande concorrência externa, uma gestão questionável das empresas - com grandes problemas de logística - e uma alta taxa de juros, que tem diminuído lentamente ao longo dos últimos meses.


Devido à maior autonomia do Banco Central, o Brasil conseguiu fazer um soft landing no ano de 2023: gerar uma baixa na inflação, sem causar uma recessão. Contudo, a taxa Selic tem registrado uma queda de apenas 0,5% por reunião, abaixo do esperado devido aos altos índices criados anteriormente para conter a inflação.


Gráfico 1: Taxa Selic (%)

Fonte: Banco Central do Brasil


Analistas da Focus acreditam que, em 2024, a taxa básica de juros será reduzida para 9%. Mantendo o ritmo de 0,5% por reunião, que é a intenção do Banco Central, o índice previsto chegará apenas em novembro.


A natureza do negócio varejista é começar dentro de marketplaces ou com lojas pequenas, fazendo com que o modelo se torne extremamente dependente de empréstimos para crescer. Portanto, a alta na taxa de juros em 2023, que gerou queda no consumo, também criou dificuldades para que essas empresas contraíssem dívidas.


A crise no varejo brasileiro teve início em 2020 e, devido a esse ciclo de baixo consumo e indisponibilidade de crédito, essa crise se manteve até hoje. Apesar do modelo se mostrar mais saudável em alguns momentos desse período, as taxas de juros voltaram a subir no ano de 2023 e geraram uma crise de liquidez dentro do setor varejista.


Crise de Liquidez


A crise de liquidez ocorre quando há uma escassez repentina de dinheiro disponível no mercado, que pode ser causada por alguns fatores como: (1) a falência de uma grande instituição financeira, (2) uma recessão econômica, (3) pânico dos investidores, (4) entre outros.


Sem crédito, as empresas contraem seus gastos, cortam despesas, demitem parte da equipe e iniciam um ciclo vicioso, já que o aumento do desemprego reduz a demanda e os lucros das próprias empresas.


Considera-se a possibilidade de que um dos motores e agravantes da crise em 2023 foi o caso de inconsistências contábeis de mais de R$ 45 bilhões da Americanas. O caso da empresa fez com que a percepção de risco sobre as finanças corporativas aumentasse. Tal percepção é extremamente relevante para determinar o custo do crédito e a decisão entre conceder ou não um empréstimo.


Concorrência externa


Uma das principais causas da crise no varejo brasileiro foi a maior concorrência com lojas como Shopee, Shein e AliExpress. As empresas asiáticas se tornaram globais nos últimos anos devido à mão de obra extremamente barata do país e sua produção em massa, fazendo com que os produtos tivessem uma diminuição de custo. Essas empresas têm representado fortemente o crescimento da China como player mundial e são uma das principais fontes de consumo da classe média brasileira.


Durante o ano de 2023, com a admissão de Fernando Haddad como ministro da Economia, houve uma série de taxações em diversos setores, sendo a taxação chinesa a que mais repercutiu dentro do país. A proposta era intensificar a tributação de produtos importados com valor inferior a US$ 50,00 (dólares), mas, futuramente, será possível substituir a taxa de imposto federal para o Imposto sobre Operações relativas à Circulação de Mercadorias (ICMS) caso a empresa se cadastre no programa governamental Remessa Conforme.


A taxação sobre importação foi alvo de diversas críticas por dificultar o acesso de produtos para as classes populares aumentando impostos ao invés de diminuir a tributação de produtores nacionais, que ainda pagam mais imposto no processo produtivo, mesmo com as novas taxas às empresas estrangeiras. Apesar de ser improvável a diminuição de impostos sobre as empresas nacionais no governo atual, é possível ver uma preocupação com o comércio brasileiro.


Destaques no mercado


Casas Bahia:


A antiga Via Varejo teve um ano de 2023 com forte queda no valor de suas ações, saindo de R$ 50,53 em janeiro para R$ 11,38 em dezembro, como pode ser visto no gráfico 2.


Gráfico 2: Ações BHIA3



No final de agosto de 2023, na tentativa de captar recursos de forma alternativa, as Casas Bahia anunciaram a preparação para um follow-on. Contudo, aumentar a oferta de suas ações na bolsa fez com que o valor fosse diluído em mais cotas. Posta essa perspectiva em conjunto com o cenário negativo do varejo brasileiro, diversos investidores entraram short na empresa, fazendo com que seu preço diminuísse ainda mais.


As Casas Bahia ainda não divulgaram os resultados do final de 2023, mas reportaram um prejuízo de R$ 836 milhões no lucro líquido do terceiro trimestre. Atualmente é uma das empresas com maior dificuldade no mercado brasileiro, mas conseguiu gerar uma queima de estoque e deve manter seus custos baixos até se recuperar em um prazo indeterminado.

 

Magazine Luiza:


Uma das empresas que mais repercutiu pela crise foi a Magazine Luiza. Recentemente, em novembro de 2023, a empresa sofreu ajustes de R$ 830 milhões por erros contábeis, fazendo com que o EBITDA da empresa caísse 18% em relação ao informado originalmente.


Assim como o escândalo recente do rombo de R$ 45 bilhões das Americanas, é um sinal de que as empresas varejistas brasileiras tiveram uma péssima gestão e têm dificuldades para contornar a crise de crédito.  Porém, diferentemente das Americanas, o CFO da Magazine Luiza, Roberto Bellissimo, alegou boa-fé da administração e disse que não houve violação do código de ética da empresa.


Figura 1: Loja Magazine Luiza e logo


Fontes: O Globo e Magalu


No terceiro trimestre de 2023 a Magalu reverteu o prejuízo de 2022 e anunciou um lucro líquido de R$ 331,2 milhões, porém, apoiado pela reversão de créditos tributários. Apesar da empresa tentar esconder sua situação a partir da divulgação de resultados de crescimento de vendas em lojas físicas e e-commerce, é nítido que há diversos problemas dentro da contabilidade da empresa e uma grande queda de resultados ao longo do tempo.


Nesse momento, a sobrevivência da Magazine Luiza depende de uma diminuição constante da Selic, com um mercado mais favorável ao varejo, e que não haja mais prejuízos inesperados no balanço patrimonial da empresa. Mesmo que o erro tenha sido em “boa-fé”, como alega Roberto Bellissimo, ele veio a público através de uma denúncia e não de forma espontânea pela empresa.


Perspectivas Sobre o Futuro do Varejo


O varejo como um todo sempre foi e continuará sendo uma área de difícil atuação e investimento. É esperado que - em 2024 - seja feito um maior controle de gastos pelas empresas, além do uso de inteligência artificial e lojas menores. No momento atual há uma estratégia clara e um grande período passado de aprendizado, fazendo com que seja questão de tempo para que o varejo volte a funcionar. Porém, ainda é difícil prever em que momento desse ano - ou se será em 2024 - que o mercado voltará a favorecer o setor.


Por outro lado, o presidente da Sociedade Brasileira de Varejo e Consumo (SBVC), Eduardo Terra, mostra uma posição mais otimista:


“É possível que ainda tenhamos uma ou outra recuperação judicial, mas o pior já passou, eu acho que quem estava flertando com o abismo, caiu. Agora estamos olhando para uma retomada, temos um horizonte com mais melhora do que uma deterioração.”


Agora se torna um momento de incerteza para o mercado, em que os investidores arrojados entram com estudos e análises em um cenário de grande risco, mas que pode vir a compensar. Após o inesperado ano de 2023, é difícil se surpreender com um possível crescimento no setor.




Bibliografia:


Black Friday fracassa em 2023 e é a segunda pior da história no Brasil. Disponível em: <https://valor.globo.com/empresas/noticia/2023/11/25/black-friday-fracassa-em-2023-e-e-a-segunda-pior-da-historia-no-brasil.ghtml> Acesso em 03 de Jan, 2024

Declaração sobre a Selic do Banco Central. Disponível em: <https://www12.senado.leg.br/noticias/videos/2023/08/brasil-esta-conseguindo-baixar-inflacao-sem-grandes-impactos-diz-campos> Acesso em 03 de Jan, 2024

Taxa básica de juros ao longo de 2023. Disponível em: <https://www.bcb.gov.br/estatisticas/detalhamentoGrafico/graficoshome/selic> Acesso em 03 de Jan, 2024

Varejo tem 2023 para “esquecer” e próximo ano tende a ser de transição: o que esperar para as ações. Disponível em: <https://www.outspokenmarket.com/blog/crise-de-liquidez-causas-impactos-e-aprendizados-para-o-mercado-de-capitais#:~:text=%E2%80%8BUma%20crise%20de%20liquidez,d%C3%ADvidas%20ou%20contas%20a%20pagar.> Acesso em 03 de Jan, 2024

Ações das Casas Bahia (BHIA3). Disponível em: <https://br.investing.com/equities/via-varejo-sa-historical-data> Acesso em 04 de Jan, 2024




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