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Fintechs de Pagamento: a nova era dos bancos digitais

Atualizado: 10 de nov. de 2020

Autor: Ana Carolina Prates

A sociedade evolui, o mundo está mudando muito rápido e o Sistema Financeiro Nacional (SFN) está finalmente acompanhando estas mudanças. Há não muito tempo, podíamos recorrer a poucos bancos, já tradicionais e fixos no mercado, como o Itaú, o Bradesco, o Santander, entre outros. Porém, nem sempre estes bancos ofereciam os melhores serviços, atendimentos e deixavam o cliente satisfeito. Com a baixa concorrência, o público, em geral, não tinha a quem recorrer, e os gigantes do mercado não precisavam se renovar para atender ao cliente.

Porém, tudo mudou em 2013, quando o Banco Central Brasileiro lançou o Relatório de Vigilância do Sistema de Pagamentos Brasileiro (SPB) 2013, mudando todo o panorama do Sistema Financeiro Nacional. Neste relatório, o BC permitiu a entrada de novos atores no SPB, buscando estabelecer condições mínimas para a oferta destes novos serviços, o que estimula a competição no setor e o torna mais eficiente, criando um ambiente mais inclusivo e favorável a inovações. Dentre estes novos atores, temos as ​fintechs,​ que são o objeto de estudo deste artigo, além das suas contribuições para o SFN Brasileiro.

Fintech surgiu do termo em inglês "financial technology", em português, tecnologia financeira e se refere a empresas que utilizam a tecnologia para oferecer ou desenvolver produtos financeiros que utilizam um ambiente totalmente digital. Em agosto, um levantamento apontou que o Brasil possui 190 ​fintechs do setor de pagamento. Nesse setor, temos como principais atores os que ofertam "maquininhas", como a Stone, empresas que oferecem ​cashback​, como a AME, e ainda as que oferecem contas de pagamento, como o Nubank, o Banco Inter e o Banco C6. Neste último segmento, foco deste artigo, não há uma regulação oficial, e as ​fintechs devem se adaptar às regras impostas aos bancos tradicionais.

Para falar sobre o setor de pagamentos dentro das ​fintechs​, focando nos bancos digitais, em primeiro lugar, vale ressaltar que no Brasil existem 63,4 milhões de indivíduos considerados inadimplentes e a maioria destes não conseguia abrir novas contas em bancos. Este é um público-alvo para as novas ​fintechs de pagamento, que não costumam conceder crédito para todos os clientes, e tem o hábito de aceitar clientes com histórico de inadimplência por isso. Outros potenciais clientes são pessoas que desejam praticidade e um bom atendimento. Com apenas um clique, você consegue abrir sua conta, sem precisar recorrer a uma agência física - o que ainda contribui para a diminuição do custo da ​fintech ​-, e tendo um bom atendimento em suas plataformas. O Nubank, a maior ​fintech de pagamento do Brasil, obteve o resultado de 87 no seu NPS (​Network Promoter Score​), que é um medidor de satisfação dos clientes utilizado no mundo todo, enquanto o Itaú, por exemplo, recebeu apenas 71 pontos. Estes indicadores apontam como os grandes bancos estão ficando para trás e terão que se inovar para atingir novos resultados. O Nubank já possui mais de 5% do ​Market Share do setor de cartões de crédito, e cresce a um ritmo de 0,75% por trimestre, de acordo com as estimativas do Valor, o que mostra que os novos entrantes estão ocupando espaço. Vale ressaltar que mais de 20% dos brasileiros possuem contas em bancos digitais, segundo a Fiserv (empresa que atua no processamento de transação de cartões).

Além da melhor avaliação de atendimento, a maioria das ​fintechs de pagamento não cobram taxas, ou cobram menores do que os grandes bancos, por exemplo taxas de TED E DOC. Isto força os últimos a se adaptarem e diminuírem sua margem. Também vale ressaltar que bancos tradicionais arrecadam quase R$2 bilhões por ano com receitas de cobrança, como boletos. O PIX, do Banco Central, é um novo entrante no mercado, chegando em Novembro de 2020, e permitindo pagamentos instantâneos, a qualquer hora do dia, com taxas menores do que as tradicionais, o que seria uma grande concorrência para os boletos bancários. Segundo o Banco Central, a PIX “além de aumentar a velocidade em que pagamentos ou transferências são feitos e recebidos, tem o potencial de alavancar a competitividade e a eficiência do mercado; baixar o custo, aumentar a segurança e aprimorar a experiência dos clientes; promover a inclusão financeira e preencher uma série de lacunas existentes na cesta de instrumentos de pagamentos disponíveis atualmente à população”. Sendo assim, fica claro que os novos entrantes estão revolucionando o mercado e estimulando competitividade.

Porém, há um custo em trazer estes novos benefícios: o Nubank já chegou a ter o custo de aquisição de cliente (CAC) a R$ 28, pelas despesas com marketing, emissão de cartões sem custos para o cliente e outros serviços. Porém, este custo já caiu para R$14 no primeiro semestre de 2020. Acredita-se que, com a COVID-19, muitas pessoas tenham recorrido aos bancos digitais pela praticidade de não necessitar de uma agência física para resolver eventuais problemas ou até mesmo para abrir uma conta. Outro ponto negativo é que, apesar de um crescimento rápido ser o foco das ​fintechs​, elas registram um grande prejuízo inicial. O prejuízo líquido da Nubank em 2018 foi de R$100,3 milhões. O maior desafio dos bancos digitais, que apelam para as tarifas baixas, é oferecer preços competitivos em serviços como saque de dinheiro, pois os mesmos não têm agências físicas.

Por outro lado, os bancos tradicionais têm diversas vantagens em relação aos novos entrantes. Primeiramente, eles têm um banco de dados extenso, que permite avaliar um bom devedor, e conceder crédito de maneira mais fácil e segura, tendo mais certeza do retorno do investimento. Além disso, ao possuir um balanço robusto, eles têm capital para investir em si mesmos e em sua inovação, podendo recuperar sua imagem, agora mais desgastada. Soma-se a isso a variedade de produtos financeiros que estes bancos oferecem a seus clientes, o que atrai clientes de qualidade e com mais capital.

Segundo o Banco Central do Brasil, durante 2019, os indicadores de concorrência mantiveram a tendência de alta iniciada em meados de 2017, sinalizando um ambiente de aumento da competição bancária e redução de custos de crédito e de outros serviços financeiros. A mesma instituição também dá destaque para o fato que as ​fintechs de pagamento são as maiores do meio, como visto no gráfico abaixo:



Este gráfico reflete também a proatividade das autoridades regulatórias, avançando em normas e procedimentos que garantem maior segurança jurídica e estimulam a competição no sistema financeiro, ao permitir o crescimento das ​fintechs de pagamento. É importante ressaltar a agenda “BC#” do BCB, que tem como base a democratização financeira e promove reformas que visam gerar acesso e promover bom uso de produtos e serviços financeiros, e que também leve o crédito mais barato para um maior número de pessoas e que aumente a transparência do Sistema Financeiro Nacional. Assim, é certo que a agenda ajudará a estimular a competitividade no setor.

A partir desses pontos, percebe-se como os bancos digitais chegaram para desburocratizar: aproveitando a imagem desgastada dos bancos tradicionais - conhecidos pelas longas filas nas agências e pela morosidade de resolver os problemas dos clientes - eles possibilitaram para o cliente maior transparência e agilidade nas operações. Apelando para o baixo custo de tarifas e melhor experiência do cliente, os bancos digitais estão conseguindo ganhar ​market share ​de forma rápida e revolucionar o sistema bancário brasileiro, fazendo os grandes bancos correrem atrás e se renovarem, buscando inovação digital e introduzindo tecnologias disruptivas, por já terem maior conhecimento do mercado e um balanço mais robusto. Portanto, a entrada destes novos atores tende a beneficiar o cliente, que tem uma gama maior, mais qualificada e em constante inovação de opções de serviço.


Fontes:

https://www.bcb.gov.br/conteudo/relatorioinflacao/EstudosEspeciais/EE089_Fintechs_de_ credito_e_bancos_digitais.pdf Carta absoluto partners https://www.itau.com.br/relacoes-com-investidores/Download.aspx?Arquivo=aRlDA5f37Gg 2GlJo2ITIeQ==&idcanal=0/TZP3IWbxup3bLwkDvodg== https://www.bcb.gov.br/content/publicacoes/relatorioeconomiabancaria/REB_2019.pdf https://valorinveste.globo.com/objetivo/empreenda-se/noticia/2020/08/25/numero-de-finte chs-no-brasil-cresceu-28percent-no-ultimo-ano-maioria-e-de-pagamentos.ghtml

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